Observação
Esta é uma modalidade de proposta em que eu coloco muitos textos.
Vale dizer que isso não é uma coletânea como a de um vestibular. Ela é maior. Pois meu objetivo é que você leia bastante sobre o assunto,
Escreva um texto dissertativo em que você se posicione a respeito das declarações da jornalista Raquel Sheherazade a respeito do espancamento de um adolescente suspeito de furto
Esta é uma modalidade de proposta em que eu coloco muitos textos.
Vale dizer que isso não é uma coletânea como a de um vestibular. Ela é maior. Pois meu objetivo é que você leia bastante sobre o assunto,
Escreva um texto dissertativo em que você se posicione a respeito das declarações da jornalista Raquel Sheherazade a respeito do espancamento de um adolescente suspeito de furto
Texto 1
‘’Pouco mais de
dois meses após a apresentadora Rachel Sheherazade defender a ação de
“justiceiros”, que espancaram e amarraram no poste um adolescente suspeito de
furto no Rio de Janeiro, o SBT decidiu barrar os comentários de seus âncoras
durante o principal telejornal da emissora. Assim, Sheherazade e o também
apresentador Joseval Peixoto estão proibidos de emitir suas opiniões durante o SBT Brasil.
Em comunicado divulgado na segunda-feira 14, a emissora informou que a medida
tem o objetivo de “preservar” os jornalistas.
Sheherazade se tornou alvo de críticas após classificar como "legítima defesa coletiva" o ataque promovido por um grupo criminoso que espancou, amarrou e cortou parte da orelha de um jovem com golpes de capacete. Para a apresentadora, a ação dos justiceiros era “compreensível” diante da insegurança das ruas e da impotência do Estado. Ela chamou o adolescente de marginal e pediu, em tom de deboche, aos grupos em defesa de direitos humanos que estavam com "pena" do garoto para adotarem o “bandido”.
A decisão de impedir que Sheherazade opine sobre as notícias do telejornal foi definida após a pressão sobre a emissora promovida por organizações de direitos humanos, parlamentares e até mesmo o governo federal, de acordo com o site Notícias da TV, do jornalista Daniel Castro.
Além disso, parlamentares de dois partidos políticos enviaram representações ao Ministério Público Federal contra a apresentadora. O deputado Ivan Valente (PSOL-SP) argumentou que Sheherazade usava o espaço na emissora para fazer “apologia à tortura e ao justiçamento”. O mesmo foi feito pela deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ). Ela levou o caso ao procurador-geral da República, Rodrigo Janot, e pediu suspensão do pagamento de verba publicitária a uma emissora. Somente em 2012, o SBT recebeu aproximadamente 153,5 milhões de reais para veicular propagandas do governo.
Janot “mostrou preocupação” em relação às denúncias porque, de acordo com ele, “incitação à violência” é crime e não pode ser justificada como liberdade de imprensa. Com isso, o caso foi encaminhado ao Ministério Público de São Paulo, que separou a denúncia em duas partes. A primeira delas, sobre os repasses de dinheiro público, está sob análise da divisão cível do MPF-SP, enquanto a outra, de cunho criminal, foi encaminhada ao Ministério Público Estadual.
A procuradora Ryanna Veras, responsável pelo caso, juntou outras quatro representações baseadas no episódio. Nestes documentos, Sheherazade é acusada de “desafiar o código de ética dos jornalistas, incitar a intolerância, e o crime contra minorias sociais”. Nos documentos há pedidos para a responsabilização da emissora e de Sheherazade por danos morais coletivos. A ideia é que o SBT fosse obrigado a exibir, em contrapropaganda, programas de promoção dos direitos humanos. Parte de todo o processo também está em análise na Procuradoria Regional dos Direitos do Cidadão, parte da divisão cível do MPF-SP. O procurador designado para o caso deve analisar as representações na próxima semana.
Leia a nota do SBT na íntegra:
“Em razão do atual cenário criado recentemente em torno de nossa apresentadora Rachel Sheherazade, o SBT decidiu que os comentários em seus telejornais serão feitos unicamente pelo Jornalismo da emissora em forma de Editorial. Essa medida tem como objetivo preservar nossos apresentadores Rachel Sheherazade e Joseval Peixoto, que continuam no comando do SBT Brasil” http://tribunadaimprensaonline.blogspot.com.br/2014/04/sob-pressao-sbt-barra-comentarios-de.html
Sheherazade se tornou alvo de críticas após classificar como "legítima defesa coletiva" o ataque promovido por um grupo criminoso que espancou, amarrou e cortou parte da orelha de um jovem com golpes de capacete. Para a apresentadora, a ação dos justiceiros era “compreensível” diante da insegurança das ruas e da impotência do Estado. Ela chamou o adolescente de marginal e pediu, em tom de deboche, aos grupos em defesa de direitos humanos que estavam com "pena" do garoto para adotarem o “bandido”.
A decisão de impedir que Sheherazade opine sobre as notícias do telejornal foi definida após a pressão sobre a emissora promovida por organizações de direitos humanos, parlamentares e até mesmo o governo federal, de acordo com o site Notícias da TV, do jornalista Daniel Castro.
Além disso, parlamentares de dois partidos políticos enviaram representações ao Ministério Público Federal contra a apresentadora. O deputado Ivan Valente (PSOL-SP) argumentou que Sheherazade usava o espaço na emissora para fazer “apologia à tortura e ao justiçamento”. O mesmo foi feito pela deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ). Ela levou o caso ao procurador-geral da República, Rodrigo Janot, e pediu suspensão do pagamento de verba publicitária a uma emissora. Somente em 2012, o SBT recebeu aproximadamente 153,5 milhões de reais para veicular propagandas do governo.
Janot “mostrou preocupação” em relação às denúncias porque, de acordo com ele, “incitação à violência” é crime e não pode ser justificada como liberdade de imprensa. Com isso, o caso foi encaminhado ao Ministério Público de São Paulo, que separou a denúncia em duas partes. A primeira delas, sobre os repasses de dinheiro público, está sob análise da divisão cível do MPF-SP, enquanto a outra, de cunho criminal, foi encaminhada ao Ministério Público Estadual.
A procuradora Ryanna Veras, responsável pelo caso, juntou outras quatro representações baseadas no episódio. Nestes documentos, Sheherazade é acusada de “desafiar o código de ética dos jornalistas, incitar a intolerância, e o crime contra minorias sociais”. Nos documentos há pedidos para a responsabilização da emissora e de Sheherazade por danos morais coletivos. A ideia é que o SBT fosse obrigado a exibir, em contrapropaganda, programas de promoção dos direitos humanos. Parte de todo o processo também está em análise na Procuradoria Regional dos Direitos do Cidadão, parte da divisão cível do MPF-SP. O procurador designado para o caso deve analisar as representações na próxima semana.
Leia a nota do SBT na íntegra:
“Em razão do atual cenário criado recentemente em torno de nossa apresentadora Rachel Sheherazade, o SBT decidiu que os comentários em seus telejornais serão feitos unicamente pelo Jornalismo da emissora em forma de Editorial. Essa medida tem como objetivo preservar nossos apresentadores Rachel Sheherazade e Joseval Peixoto, que continuam no comando do SBT Brasil” http://tribunadaimprensaonline.blogspot.com.br/2014/04/sob-pressao-sbt-barra-comentarios-de.html
.Deixa Sheherazade falar
Só quando garantimos o livre
discurso dos mais radicais em uma sociedade é que realmente expomos seus vícios
Em fevereiro, a comentarista e âncora do telejornal
SBT Brasil Rachel Sheherazade se tornou uma das mais conhecidas personagens das
redes sociais. “No país que ostenta incríveis 26 assassinatos a cada 100 mil
habitantes”, disse no ar, “a atitude dos vingadores é até compreensível.”
Referia-se aos justiceiros cariocas que acorrentaram um adolescente de rua
negro contra um poste, pelo pescoço, com uma tranca de bicicleta. Qual fora
escravo. A deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ) pediu investigação à Procuradoria
Geral da República. O Sindicato de Jornalistas do Rio publicou nota de repúdio.
No início de abril, quando Sheherazade saiu de férias, circulou pela imprensa o
rumor de que havia sido afastada pela emissora por pressão do governo. Houve
quem celebrasse. É um erro.
Sheherazade é um fenômeno da internet que
provavelmente não ganharia tanto espaço noutros tempos. A baixa audiência de
seu telejornal é compensada por inúmeras cópias de seus comentários, quase
sempre inflamatórios, no YouTube. Muitos a defendem. Assim como muitos por ela
sentem repugnância. A jornalista não faz concessões ao bom gosto: é uma
radical. Mas liberdade de expressão jamais é testada pelos razoáveis, pelos
moderados, pelos de bom gosto.
O principal argumento contra Sheherazade parece partir
do bom senso: faz apologia ao crime. Parece bom senso. Não é. Apologia ao crime
é dos argumentos mais perigosos que se pode levantar contra a opinião de
alguém. Há quem defenda o livre fumo de maconha. É crime. O aborto tem
defensores. Igualmente crime. Defende-se a ocupação de propriedade privada por
quem precisa de moradia e não a tem. Crimes todos. As duas primeiras defesas
não costumam incomodar quem é liberal ou de esquerda. A última raramente
perturba a esquerda. Considerar alguns crimes defensáveis ou não tem a ver com
ideologia, não com o que é razoável. Nossa ideologia, claro, sempre nos parece
razoável. O inferno são os outros.
Há um excelente argumento para permitir que
Sheherazade fale, por mais desagradáveis que possam ser suas opiniões. Ela
representa um pedaço do Brasil. Basta passar os olhos pelas discussões na rede.
Um bom naco dos brasileiros vai para além do conservadorismo: é reacionário.
Talvez seja aquele quarto da população que, segundo o Ipea, considera que a
roupa da mulher justifica o estupro. Seus representantes talvez sejam os que
defendem abertamente os justiceiros ou fazem justiçamentos. Este é um pedaço do
Brasil. Se calamos uma voz que “os compreende”, desligamos um alerta. Sem este
alerta, desaparecem as vozes e os argumentos contra.
Thomas Jefferson, cuja data de nascimento foi
celebrada domingo, disse que “a liberdade de expressão não pode ser limitada
sem ser perdida”. Os EUA, país que ajudou a fundar, têm a legislação mais
incisiva na defesa da livre expressão. Não quer dizer que seja absoluta. Mas
que, antes de punir o discurso, pesam se vale o risco. Porque, a não ser que os
critérios para punir o discurso sejam extremamente rigorosos, fica fácil
demais. E a censura se estabelece.
Incitação ao crime é critério para punir a fala.
Mas é preciso provar que um crime ocorreu causado por ela. Uma coisa é desejar
a morte de alguém numa conversa de bar. Outra é clamar pela morte da pessoa, em
frente a sua casa, perante uma turba em fúria. Não se pune a mensagem. Punem-se
os efeitos concretos da mensagem.
Pode não parecer intuitivo, mas é só quando
garantimos o livre discurso dos mais radicais em uma sociedade, à direita e à
esquerda, que realmente expomos seus vícios. Só assim somos realmente livres. A
internet é uma máquina de livre expressão. Que seja amplamente usada.
Leia
mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/sociedade/tecnologia/deixa-sheherazade-falar-12195667#ixzz2z3GLTtak
TEXTO 3
Nota de repúdio do Sindicato e da Comissão de Ética
contra declarações da jornalista Rachel Sheherazade
O Sindicato dos Jornalistas
Profissionais do Município do Rio de Janeiro e a Comissão de Ética desta
entidade se manifestam radicalmente contra a grave violação de direitos humanos
e ao Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros representada pelas declarações
da âncora Rachel Sheherazade durante o Jornal do SBT.
O desrespeito aos direitos
humanos tem sido prática recorrente da jornalista, mas destacamos a violência
simbólica dos recentes comentários por ela proferidos no programa de 04/02/2014
(http://www.youtube.com/watch?v=nXraKo7hG9Y). Sheherazade violou os direitos
humanos, o Estatuto da Criança e do Adolescente e fez apologia à violência
quando afirmou achar que “num país que sofre de violência endêmica, a atitude
dos vingadores é até compreensível” — Ela se referia ao grupo de rapazes que,
em 31/01/2014, prendeu um adolescente acusado de furto e, após acorrentá-lo a
um poste, espancou-o, filmou-o e divulgou as imagens na internet.
O Sindicato e a Comissão de Ética
do Rio de Janeiro solicitam à Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) que
investigue e identifique as responsabilidades neste e em outros casos de
violação dos direitos humanos e do Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros,
que ocorrem de forma rotineira em programas de radiodifusão no nosso país. É
preciso lembrar que os canais de rádio e TV não são propriedade privada, mas
concessões públicas que não podem funcionar à revelia das leis e da Declaração
Universal dos Direitos Humanos.
Eis os pontos do Código de Ética
referentes aos Direitos Humanos:
Art. 6º É dever do jornalista:
I – opor-se ao arbítrio, ao
autoritarismo e à opressão, bem como defender os princípios
expressos na Declaração Universal dos Direitos Humanos;
expressos na Declaração Universal dos Direitos Humanos;
XI – defender os direitos do
cidadão, contribuindo para a promoção das garantias
individuais e coletivas, em especial as das crianças, adolescentes, mulheres, idosos,
negros e minorias;
individuais e coletivas, em especial as das crianças, adolescentes, mulheres, idosos,
negros e minorias;
XIV – combater a prática de
perseguição ou discriminação por motivos sociais,
econômicos, políticos, religiosos, de gênero, raciais, de orientação sexual, condição física
ou mental, ou de qualquer outra natureza.
econômicos, políticos, religiosos, de gênero, raciais, de orientação sexual, condição física
ou mental, ou de qualquer outra natureza.
Art. 7º O jornalista não pode:
V – usar o jornalismo para
incitar a violência, a intolerância, o arbítrio e o crime;
Também atuando no sentido
pedagógico que acreditamos que deva ser uma das principais intervenções do
sindicato e da Comissão de Ética, realizaremos um debate sobre o tema em nosso
auditório com o objetivo de refletir sobre o papel do jornalista como defensor
dos direitos humanos e da democratização da comunicação. http://jornalistas.org.br/index.php/nota-de-repudio-do-sindicato-e-da-comissao-de-etica-contra-declaracoes-da-jornalista-rachel-sheherazade/
Texto 4
TEXTO 4 Rachel Sheherazade: Ordem ou
barbárie?
O
fenômeno da violência é tão antigo quanto o ser humano. Desde sua criação (ou
surgimento, dependendo do ponto de vista), o homem sempre esteve dividido entre
razão e instinto, paz e guerra, bem e mal.
Há quem
tente explicar a violência, a opção pela criminalidade, como consequência da
pobreza, da falta de oportunidades: o homem fruto de seu meio. Sem poder fazer
as próprias escolhas, destituído de livre-arbítrio, o indivíduo seria condenado
por sua origem humilde à condição de bandido. Mas acaso a virtude é monopólio
de ricos e remediados? Creio que não.
Na
propaganda institucional, a pobreza no Brasil diminuiu, o poder de compra está
em alta, o desemprego praticamente desapareceu... Mas, se a violência tem
relação direta com a pobreza, como explicar que a criminalidade tenha crescido
em igual ou maior proporção que a renda do brasileiro? Criminalidade e pobreza
não andam necessariamente de mãos dadas.
Na semana
passada, a violência (ou a falta de segurança) voltou ao centro dos debates. O
flagrante de um jovem criminoso nu, preso a um poste por um grupo de
justiceiros deu início a um turbilhão de comentários polêmicos. Em meu espaço
de opinião no jornal "SBT Brasil", afirmei compreender (e não
aceitar, que fique bem claro!) a atitude desesperada dos justiceiros do Rio.
Embora
não respalde a violência, a legislação brasileira autoriza qualquer cidadão a
prender outro em flagrante delito. Trata-se do artigo 301 do Código de Processo
Penal. Além disso, o Direito ratifica a legítima defesa no artigo 23 do Código
Penal.
Não é de
hoje que o cidadão se sente desassistido pelo Estado e vulnerável à ação de
bandidos. Sobra dinheiro para Cuba, para a Copa, mas faltam recursos para a
saúde, a educação e, principalmente, para a segurança. Nos últimos anos,
disparou o número de homicídios, roubos, sequestros, estupros... Estamos entre
os 20 países mais violentos do planeta. E, apesar das estatísticas, em matéria
de ações de segurança pública, estamos praticamente inertes e, pior: na
contramão do bom senso!
Depois de
desarmar os cidadãos (contrariando o plebiscito do desarmamento) e deixá-los à
mercê dos criminosos, a nova estratégia do governo, por meio do Conselho de Defesa
dos Direitos da Pessoa Humana, é neutralizar a polícia, abolindo os autos de
resistência.
Na
prática, o policial terá que responder criminalmente por toda morte ocorrida em
confronto com bandidos. Em outras palavras, é desestimular qualquer reação contra
o crime. Ou será que a polícia ousará enfrentar o poder de fogo do PCC
(Primeiro Comando da Capital) ou do CV (Comando Vermelho) munida apenas de
apitos e cassetetes?
Outra
aliada da violência nossa de cada dia é a legislação penal: filha do
"coitadismo" e mãe permissiva para toda sorte de criminosos. Presos
em flagrante ou criminosos confessos saem da delegacia pela porta da frente e
respondem em liberdade até a última instância.
No Brasil
de valores esquizofrênicos, pode-se matar um cidadão e sair impune. Mas a lei
não perdoa quem destrói um ninho de papagaio. É cadeia na certa!
O ECA
(Estatuto da Criança e do Adolescente), o Estatuto da Impunidade, está sempre a
serviço do menor infrator, que também encontra guarida nas asas dos direitos
humanos e suas legiões de ONGs piedosas. No Brasil às avessas, o bandido é
sempre vítima da sociedade. E nós não passamos de cruéis algozes desses
infelizes.
Quando
falta sensatez ao Estado é que ganham força outros paradoxos. Como jovens
acuados pela violência que tomam para si o papel da polícia e o dever da
Justiça. Um péssimo sinal de descontrole social. É na ausência de ordem que a
barbárie se torna lei.
RACHEL SHEHERAZADE, 40, jornalista pela Universidade Federal da
Paraíba, é âncora do telejornal "SBT Brasil"http://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2014/02/1410284-rachel-sheherazade-ordem-ou-barbarie.shtml
Texto 5
Ivan Valente: A volta do
Pelourinho
A foto de um adolescente negro,
deixado nu, sangrando após golpes de capacete e amarrado a um poste por uma
trava de bicicleta correu o mundo. Ressuscitou-se o Pelourinho 125 anos após
"o fim da escravidão", para regozijo de quem sempre está pronto para
empinar o chicote e fazer justiça com as próprias mãos. Como se essa violência
não gerasse mais violência e insegurança, em nome da segurança. Querem
substituir o Estado pela barbárie.
Diante da gravidade do fato, em
vez de negar a barbárie, a jornalista Rachel Sheherazade, no jornal do SBT, em
horário nobre, não só achou justificável a ação dos 30 justiceiros, como
estimulou a atitude do que ela chamou de "vingadores". Ou seja,
milícias, gangues e bandos que operam à margem da lei.
O que é isso senão apologia ao
crime, à tortura, ao linchamento, ao justiçamento? Em seu editorial, em busca
de audiência e navegando no senso comum e no desespero da população com a
violência, a âncora conseguiu violar a Constituição, o ECA (Estatuto da Criança
e do Adolescente), todas as convenções de defesa dos direitos humanos, o código
de ética dos jornalistas brasileiros, o Código Penal e o Código Brasileiro de
Telecomunicações e ainda debochou: quem se apiedou do "marginalzinho"
que adote um "bandido".
Por isso representamos a
jornalista e o SBT junto ao Ministério Público Federal e Estadual (SP). O SBT
afirmou que não se responsabiliza pelas declarações de seus âncoras, já de olho
nas consequências legais. A jornalista afirmou que as críticas representavam
censura. Refugiam-se covardemente na liberdade de imprensa e de opinião, mas
sabem que as leis não amparam apologia ao crime, à tortura e ao linchamento.
Por outro lado, o SBT sabe que
rádio e TV operam por meio de outorgas concedidas pelo Ministério das
Comunicações e aval do Congresso Nacional. Não é mera propriedade privada, como
querem que acreditemos. A emissora tem sim responsabilidade sobre o que apresenta
e o Ministério das Comunicações e o Congresso Nacional não podem se omitir em
exercer sua prerrogativa de fiscalizar as concessionárias.
Na Alemanha de Hitler, muito
antes da guerra, os nazistas formaram grupos paramilitares, milícias
aterrorizadoras (os Freikorps) que massacravam "inimigos" (judeus,
comunistas, minorias), detonaram o monopólio da força pelo Estado e levaram o
ditador ao poder. E deu no que deu. Aqui, o inimigo dos Freikorps do bairro do
Flamengo são os jovens, negros e pobres, infratores ou não. Negam o Estado
democrático de Direito e pretendem, com a criação de força paralela, com
tortura e eliminação física, enfrentar a delinquência esquecendo o sistema que
a gera. As históricas desigualdades e injustiças não podem ser resolvidas pela
barbárie, mas pelo acolhimento do Estado.
Defendemos a total liberdade de
opinião. Mas, é um retrocesso entender que incitação ao crime está resguardada
pela liberdade de expressão. O compromisso constitucional brasileiro é com a
construção de uma sociedade fraterna, justa e solidária. Nosso país não precisa
de milícias ou grupos de extermínio. O que precisamos é de mais educação,
política social, segurança pública, distribuição de renda e igualdade de
direitos. Única maneira de se conseguir a paz.
IVAN
VALENTE, 67, é deputado federal por São
Paulo e líder da bancada do PSOL na Câmara
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PARTICIPAÇÃO
Para colaborar, basta enviar
e-mail para debates@uol.com.br.
Os artigos publicados com
assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao
propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de
refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo. http://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2014/02/1410286-ivan-valente-a-volta-do-pelourinho.shtml
Caso queira ouvir um podecast aqui está um . Ele poderá ajudar você.
http://www.observatoriodaimprensa.com.br/radios/view/gt_gt_relativizando_sheherazade_lt_br_gt_gt_gt_incitacao_ao_crime_a_decisao_da_direcao_do
Caso queira ouvir um podecast aqui está um . Ele poderá ajudar você.
http://www.observatoriodaimprensa.com.br/radios/view/gt_gt_relativizando_sheherazade_lt_br_gt_gt_gt_incitacao_ao_crime_a_decisao_da_direcao_do
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